A Bênção João de Deus - a Voz de um Santo (A história do "disco do Papa")


 Hoje, se estivesse vivo, Vossa Santidade, o Papa São João Paulo II estaria completando 96 anos de vida. E quero contar uma história que envolve esse disco da foto acima e de como ganhei de minha saudosa mãe algo tão raro que eu não conheço outra pessoa que possua "a voz de um santo papa" gravado num disco de vinil.
Sou católica. Na parede do quarto que dividia com minha mãe e minha tia, havia um quadro do Papa João Paulo II com a assinatura em latim impressa que veio numa revista que meu saudoso avô comprou e minha mãe mandou por num quadro.Gostava de olhar todos os dias aquele senhor bondoso com um leve sorriso e as mãos prostradas em oração e o olhar voltado ao fotógrafo que registrou o momento. Seu olhar parece abençoar a quem tem aquela foto sei lá o porque. 
Aos poucos criei um carinho tão imenso e um amor fraternal por aquele papa que o considerava como se fosse um outro avô.
Em junho de 1980, o Brasil estava ansioso para receber a visita do representante de Deus na terra (segundo a igreja Católica Apostólica Romana) pela primeira vez. E na minha casa não era diferente. 
Minha saudosa avó, católica fervorosa e praticante, dedicada à leitura da Bíblia e assídua frequentadora das missas na igreja do bairro, resolveu ir esperar a chegada do avião que trazia Vossa Santidade, pousar no Campo de Marte.
Ao descer, o Papa faria um breve discurso antes das missas que seriam celebradas em São Paulo e em Aparecida, no Vale do Paraíba, terra da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, minha Madrinha do Céu..
Eu tinha um desejo imenso de ao menos ver o Papa de longe e quem sabe receber uma Bênção através do Sinal da Cruz e, se tivesse mais sorte, ser escolhida para ser uma das crianças que iriam até o Santo Padre para que ele impusesse suas mãos sobre minha cabeça já que eu era uma menina de apenas cinco anos. E queria a todo custo, vestir minha melhor roupa para o grande dia que nunca chegou. 
Pedi constantemente para minha mãe a permissão para eu ir com minha avó, minha madrinha e uma amiga delas ao Campo de Marte recepcionar o Papa João Paulo II. Minha mãe foi enfática e firme ao dizer não. Ela argumentou que teria uma multidão muito grande, que eu não conseguiria  vê - lo, que poderia me machucar. Tentei convencê - la de todas as formas. Disse até que se o Papa apenas fizesse o Sinal da Cruz e eu conseguisse ver o gesto mesmo através da multidão, me curaria da minha deficiência física. Sem sucesso. 
Chorei muito, dias e dias, como nunca tinha chorado em toda minha vida, não queria ir para a escola, não queria comer ou brincar nem ver meus desenhos animados ou sair. No dia 30 de Junho de 1980, logo cedo, lá se foram minha avó, a amiga dela e minha madrinha ao Campo de Marte. E eu fiquei chorando de tristeza. 
O duro era assistir à noite o Jornal Nacional com o Cid Moreira narrando a passagem do Papa e crianças ao seu redor da mesma idade que a minha e até bebês de colo com alguns dias de vida. 
Foi muito difícil ver tudo isso e ouvir nãos da minha mãe cada vez que eu pedia para ela me levar pelo menos em Aparecida . 
Quando a coisa ficou preocupante, minha mãe deixou de fazer uma hora extra no sábado (que era até meio dia) e me levou para passear na Penha onde na época haviam muitas lojas de discos. 
Entrando numa delas, ela me disse: "Pega esse disco". E eu peguei. Era exatamente esse disco "A Voz do Papa" e quem sabe assim viria um consolo pois eu ouviria a voz do Papa no Brasil, numa missa, mesmo que através de um disco gravado.
Ao chegar em casa, coloquei o disco na vitrola e, na minha inocência infantil, acabei "me conformando" sei lá o que passou pela minha cabeça. O começo é a Bênção Papal em português ainda que meio desajeiado e as outras faixas são músicas católicas, inclusive a Ave Maria em latim composta por Charles Gounod.
Ouvi todos os dias, muitas vezes, duas ou três vezes por dia e minha mãe ficava até enjoada de tanto que eu ouvia. É um disco muito especial que não troco por nada.
Hoje em dia eu quase não ouço, muito de vez em quando.
Quando o Papa faleceu em 2005, eu estava na Praça da Sé, voltando de uma corrente de orações pela saúde dele. Assisti à missa inteira agarrada ao meu disquinho. E quando os sinos da Catedral badalaram pausados e baixos anunciando a morte dele, chorei a viagem inteira sem ter a confirmação oficial. E quando vi a TV da minha casa acabando de anunciar o fato, fechei a porta do meu quarto e coloquei o disco. Ouvi debulhando em lágrimas, foi doloroso.
Pouco tempo mais tarde, vi o Papa Emérito Bento XVI de perto e recebi um Sinal da Cruz em minha direção. Talvez Deus estivesse me recompensando. Jamais saberei. Mas o fato é que hoje o disco do Papa é uma linda e doce recordação. Quando quero paz, um minuto de reflexão ou sinto falta, coloco e ouço. Mas faço isso também em momentos de alegria.
Onde Vossa Santidade estiver, lhe rogo A Sua Bênção João de Deus e elevo minhas orações pelo teu descanso neste dia de teu aniversário. Com muito carinho. Vos amo São João Paulo II. 

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