Meu nome é Bond...James Bond - Capítulo 4 - Os Diamantes São Eternos (1956)


Vamos começar mais uma jornada na nossa série sobre os livros e filmes de James Bond com um pequeno parêneses. Uma das vezes que li esse livro foi em 2004 durante minha viagem ao Rio de Janeiro. Foi um momento inesquecível na minha vida. Isto posto, vamos ao que interessa. 
Dizem que o melhor amigo do homem é o cachorro e o melhor amigo da mulher é o diamante.
Para uma Bond maníaca, claro, isso é fato mas quer ver ficar melhor? Basta envolver 007 nisso tudo e misturar como se fosse um vodca martini batido não mexido. 
Ian Fleming  "misturou" e vou falar: ficou divertido e bastante interessante. 
Neste livro, o autor saiu do conforto de tratar do tema Guerra Fria, dos inimigos russos e tudo que representavam para dar lugar ao contrabando de pedras preciosas com outra locação, outra trama.
O autor tenta nos convencer de que nada mudou. Que os vilões são extremamente perigosos. Mas não é bem assim. Os irmãos Jack e Serafino Spang são até inofensivos, tanto que quase não notei a presença deles no livro. 
Cabe uma curiosidade: Serafino Spang mora em um parque de diversões chamado Spectreville. Pareceria óbvio demais termos num livro de 007 esse lugar com um nome que nada tem a ver com SPECTRE, a organização criminosa formada por supervilões inimigos de 007 chefiada por Blofeld com representantes em todo o mundo. No alto da inteligência de Fleming, alguns leitores desavisados como eu, foram levados a acreditar que havia alguma relação entre o parque e a organização criminosa. Nada a ver, coincidência. 
Já o outro irmão Spang, Jack, aparece em duas cenas que se Diamantes São Eternos fosse uma novela de TV qualquer, talvez o personagem nem fosse creditado no elenco de apoio. Tipo, virou o pescoço perdeu a cena. Cochilou um segundo, perdeu a outra cena.
Muita coisa muda nesse livro e a principal delas é que o temido agente secreto britânico antes muito respeitado por seus algozes, passa a ter sua capacidade sub julgada por seus inimigos. 
Fleming, apesar de mudar um pouco a trama ao escrever este livro,  a "superioridade britânica", o charme e a sedução de Bond continuaram intactas. Bond tornou - se também, arrogante e displicente. Existe uma cena em que Bond estava recebendo ordens para a missão e não estava nem aí para o que estava acontecendo. A missão não era tão importante.
Uma das mudanças mais  bruscas foi com a parceria de Felix Leiter, agente da CIA, que nessa estória abandona a agência de inteligência americana e passa a atuar sob o comando do MI -6, para mergulhar de cabeça  na investigação de um roubo de diamantes na África que eram lapidados na Europa e gastos por toda América, ajudando seu velho parceiro Bond. Porém, aquilo que era de confiança passa a não ser mais tão confiável como antes. 
A narrativa política não existe. Não há governos inimigos, governo herói ou governo vilão. Ao que parece, todos são unidos para combater um crime cometido simultaneamente em todo planeta por uma organização muito poderosa. Tradições bondianas quebradas a todo instante para causar impacto. 
Fomos apresentados também aos vilões Mr Wind e Mr Kind, personagens de uma relação polêmica entre eles para os anos 1950. Algo que hoje em dia seria aceito com mais facilidade. Ousadia e um grande avanço para tempos conservadores: O homossexualismo mesmo velado era tratado naqueles dias num livro popular.  
Fleming, assumidamente machista, criou uma Bond Girl muito diferente da fragilidade feminina tão valorizada e realçada no mundo daquela época. Tiffany Case que no começo da estória trabalhava para os inimigos de 007, além de resistir às investidas do agente secreto, aos poucos vai mudando de lado e só após salvá - lo de uma situação de perigo, finalmente cai nos braços dele. Parece pouco mas é um grande avanço na relação de James Bond com suas belas garotas. A soberana Inglaterra continuou no comando de tudo. 
Como sabemos, quando Bond foi criado em Goldeneye, Jamaica, a coroa britânica estava abalada pela guerra, seus heróicos soldados e o povo deixaram de acreditar em si. Fleming que não se acostumara à ser casado e precisava de uma válvula de escape. E mais do que isso, um resgate do orgulho patriótico e da auto - estima de um escritor e de seus leitores através de um personagem. 
Já o filme, embora muito da estória tendo sido até bem adaptado, vale destacar que não passa de uma comédia ao estilo mexicano do atrapalhado herói Chapolin Colorado, criado por Roberto Gomez Bolaños. Vilões que causam mais risadas do que medo, mesmo o temido Blofeld. Mr Wild e Mr. Kind o casal fofinho que tenta ser mau mas só faz trapalhadas brindando o público com cenas de bom humor, embora sejam cruéis quando querem eliminar pessoas. 
Despedida melancólica para o Bond de Sean Connery. 
Connery não queria voltar a vestir o smoking mais famoso do mundo mas o que não faz um punhado a mais de dólares?
Na tela percebe - se que está sempre emburrado, de saco cheio, fazendo por fazer. E até a última entrevista que deu sobre cinema, evitou falar sobre seu personagem mais famoso, até mesmo em documentários para DVD. O fato é que Diamantes São Eternos foi uma tentativa razoável tanto no livro quanto no filme de mudança que nem sempre deu certo. 

Eu retornarei em: Moscou Contra 007 

PS:Essa série de textos é dedicada à memória de Ian Fleming e também aos amigos Lucian e Rildon que me incentivaram a fazer essa experiência. Obrigada, amigos. Beijos.
E embora não tenha feito este filme como 007, também dedico este texto à memória de Roger Moore, recordista com 7 filmes no papel de James Bond falecido dia 23 de maio deste ano. 






Comentários

  1. O caso do Espectreville só pegou os leitores de hoje, mas nos anos 1950 não havia essa associação. Isso porque a Espectre surgiu mais tarde, depois dos Diamantes São Eternos!!!

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    1. Obrigada pela visita e pelo comentário q nos trouxe uma boa curiosidade. Volte sempre q quiser e desculpa a demora da aprovação e resposta.

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