Uma foto, uma história

 

Foto enviada por  meu primo Wilson Silva (@wilcold)
 


Hoje decidi contar a vocês uma história que tem tudo a ver com esta foto e comigo também embora eu não apareça nela porque nem era nascida nesta época.  Estas crianças no colo de minha tia e de minha mãe (a "hippie" de cabelo comprido) são minhas primas mais velhas, filhas de um tio que não aparece na foto. Devo explicar primeiro que meu primo enviou esta verdadeira raridade para mim por whats app. A mãe dele (de chapéu) foi quem mostrou e ele compartilhou comigo por causa da minha mãe, que faleceu há sete anos (completos justamente hoje). E, por fim, esclarecer que meus avós tiveram 10 filhos, por isso a narrativa vai ser meio confusa mesmo. Mas peço que não se apeguem muito a esse detalhe. 

Depois da surpresa, me veio a inspiração de escrever sobre esta imagem de um ângulo que nem minhas primas, nem tias imaginam. Um ângulo muito pessoal e particular que tem mais a ver comigo do que com elas. 

Esta foto para muitos registra apenas um estilo de moda e comportamento que marcou as décadas de 1960 e 1970. Uma cena comum em fotos da época: jovens reunidas ouvindo músicas sentadas no chão e incentivando o mesmo hábito nas crianças. Com certeza, aí na sua casa deve existir uma foto destas em um álbum ou em binóculos com pessoas da sua família. Daquele tipo de pose que há muito tempo não se faz. 

Mas não para mim. Há um objeto nesta imagem que faz toda a diferença e que a torna única. 

Reparem no objeto entre minhas tias. Uma vitrola portátil, branca que pertencia ao meu padrinho, onde começava a tocar um LP eu sempre achei que fosse "Detalhes" de Roberto Carlos, um dos "discos laranja" que eu sempre gosto de ouvir porém, só agora descobri que na verdade se trata de Jerry Adriani (IM). Após ler o texto, a dona do disco me corrigiu. Provavelmente ela ainda tenha este LP.

Naquela época, me parece que apenas meu tio, pai destas meninas já era casado e todos os outros tios e tias ainda moravam na casa de meus avós. Isso não impedia que eles levassem amigos, namorados (as) para curtir um som em casa. Esta cena se repetia com muita frequência . 

Como eu já disse, esta vitrola era de meu padrinho e os LPs e discos compactos eram de meus tios e da minha mãe também. 

E onde entro nessa história? Vocês me perguntam. Respondo: da forma mais simples e óbvia, nascendo.

Quando eu nasci virei o xodó da casa. E claro que quando cheguei à idade de finamente sair do berço e conviver com a família em todos os ambientes da casa, minha mãe e meus tios sempre me deixavam ouvir disco na vitrola. Desde bastante cedo a música faz parte da minha vida.

Durante uns bons anos, isto foi normal para mim. Minha mãe colocava os discos e depois me ensinou mexer na vitrola. 

O tempo passou e meus tios logo começaram a deixar a casa dos pais. Um a um casaram - se. Levavam tudo mas não a vitrola nem os discos, que aliás estão comigo agora. Continuava com a música. E achava que a vitrola era minha. Tinha certeza disso porque ninguém dizia o contrário. Nem mesmo meu padrinho. Tudo continuava perfeito. 

Um belo dia, veio a decepção. Minha mãe me chamou para conversar às vésperas do casamento do meu padrinho. Fiquei completamente sem chão, triste, arrasada mesmo quando soube que ele ia levar "minha" vitrola com ele. Foi a primeira decepção da minha vida. Chorei como se tivesse perdido uma pessoa ou um animal de estimação. Foi muito doloroso saber que a vitrolinha não era minha, nunca foi. 

Apesar de minha tristeza aquilo era o certo a se fazer. Chorei por dias a fio inconformada. 

Um outro tio que ainda não tinha se casado, me emprestou o som que ele havia comprado mas desta vez, tudo foi feito às claras. Pude voltar a ouvir os discos e parei de chorar porém nunca esqueci a vitrola branca só não estava mais triste. Esse segundo som durou pouco comigo mas entreguei de volta ao meu tio, eu mesma quando chegou a hora.  

Nesse interim, eu já tinha quase sete anos. Faltavam meses eu acho. E minha mãe, para que ninguém mais levasse meu som embora, comprou um aparelho para mim. De surpresa. 

Aparelho que está comigo até hoje, de onde ouço minhas músicas. Já contei aqui a história dele e é um dos textos mais lidos de tempos em tempos. Vocês podem conferir se quiserem neste link:

Há 30 anos esse som toca na minha casa

Bom... Depois de um tempão sem ver "minha" vitrolinha na casa do meu padrinho (que já morava perto da minha casa em meados da década de 1980) por falta de oportunidade, afinal ela era portátil, numa das vezes que fui lá, encontrei a mesma quebrada. 

Na época, um dos filhos dele que já dera seus primeiros passos, começava a descobrir o mundo à sua volta. Era  muito curioso. 

Para satisfazer sua curiosidade teria feito algo que era impensável a uma criança pequena. Ele queria saber como "as coisas funcionavam" e achava que "podia consertar tudo" abrindo as coisas que tinham fios ou mecanismos complicados para ver as peças, provavelmente quis ver a vitrola por dentro. Não deu outra. 

Eu já era um pouco mais velha . Fiquei triste mas ao invés de chorar, disse à minha mãe que se a vitrola estivesse comigo jamais teria quebrado. Por outro lado, minha mãe talvez não me desse o aparelho de som. 

Aparelho que aliás nenhum primo meu jamais colocou a mão. Nem nenhum tio, parente ou qualquer pessoa a não ser minha mãe. Foi a lei que impus para que ele não se quebrasse. 

Era meu e eu é que tinha que mexer. Por isso toca até hoje. E jamais vou me desfazer dele enquanto estiver viva. 

Eu tinha que dividir essa história com meus amigos e leitores porque é uma recordação muito querida dentre as tantas da minha vida que desde o começo é uma vida feliz mesmo que longe de uma perfeição que todos gostaríamos que existisse. 


PS: Texto dedicado às minhas tias Paz e Judite (sentada no centro de blusa vermelha), minhas primas Mara (de roupa azul) e Meire (de vestido branco),  minha mãe Lourdes (IM), meu padrinho José (IM) e gratidão ao meu primo Wilson pela foto que inspirou este texto. 

Comentários

  1. Bela história! Patthy
    Belas decorações!!

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    1. Parabéns pela história linda escreveu bastante hein? Legal beijos

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    2. Obrigada pela visita Lia. Volte sempre q quiser. Bjs

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  3. Que honra aparecer nessa história e foto lindas 🥰🥰🥰
    Meire

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    1. Oi Meire, "merci" kkk se vc faz parte da história vc tem de estar nela. Volte sempre q quiser. A "casa" é sua tb. Bjs

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