Silvio Santos não vem mais
Não me perguntem como estou reunindo força para escrever, mas vou tentar.
Novamente vou parafrasear Roberto Cabrini: "Morreu Silvio Santos, uma notícia que eu não gostaria de ouvir".
Pela manhã, como todo sábado, peguei minha vitrola portátil, levei para a cozinha e coloquei um disco. Enquanto isso, eu fazia um exercício.
Meu whats app tocou e quando abri, a terrível notícia chegava: Silvio Santos nos deixou.
Tirei o disco do Ray Conniff que estava tocando já no fim da última música e liguei a TV na esperança de que mais uma vez seria uma fake news sem graça nenhuma. Essa falsa esperança durou segundos pois no SBT ainda era exibido um desenho animado. Coloquei na Record e a notícia chegou com força total.
Depois de algum tempo, o SBT também interrompeu o desenho.
Lembro de minha infância aos domingos, na hora do almoço assistindo Domingo no Parque e Qual é a Música, sempre brincando junto com o programa da TV. E mais à noite me divertindo com os calouros do seu programa, torcendo no Peão da Casa Própria pelas famílias que concorriam ou sonhando com o dia em que a Porta da Esperança se abria para mim e aparecesse uma agente de viagens com duas passagens (para minha mãe e para mim) e hospedagem na Disney e eu me esbugalhando de chorar em rede nacional, ou ainda me rachando de dar risada com as câmeras escondidas e Silvio participando das provas para explicar o funcionamento para os convidados. Como daquela vez em que ele caiu em um tanque cheio de água com microfone e tudo e se encharcou, ficando sem condições de prosseguir com o programa. Por conta disso, de tanto rir, quase fiz xixi nas calças, tive de "voar" para o banheiro.
Lembro das vezes que tive a oportunidade de assistir Silvio Santos de seu estúdio ainda em Santana, Zona Norte de São Paulo. Nos bastidores, um Silvio ainda mais engraçado do que na TV. Alegre, carismático, brincalhão.
Numa dessas vezes, levei meu papagaio de estimação, Gugu (falecido em 1992), para participar de uma gincana. Silvio avaliava pessoalmente as pessoas, objetos, seres vivos ou curiosidades das gincanas. Gugu não falou diante do Silvio Santos embora minhas inúmeras tentativas e foi eliminado da gincana mas no fim, Silvio Santos fez uma brincadeira: perguntou o nome do papagaio e quando eu falei que era Gugu em homenagem ao Gugu Liberato (IM), Silvio disse: "Gugu, tira essa roupa de papagaio agora e vai trabalhar senão você vai ser demitido". Minha mãe e eu não seguramos o riso. Depois, minha tia levou o papagaio para casa e minha mãe e eu assistimos o programa com a permissão do próprio Silvio Santos.
E teve a vez que Silvio, no intervalo de uma gravação, deu uma tele sena na mão da minha mãe depois que eu "travei" uma divertida batalha de mãos com ele e não consegui pegar a tele sena (risos). Não há fotos mas memórias muito vivas.
Sem contar a lembrança de um dia que fará 43 anos segunda - feira: a fundação da TVS (SBT) "Está no ar a TVS canal 4 de São Paulo". Essas palavras e aquele dia ficaram marcados para sempre e a partir dali eu passei a assistir ao SBT. E até hoje, pelo menos uma vez ao dia, eu "passo pro 4" como dizia o jingle na época para ver alguma coisa. Recentemente terminei de acompanhar a novela mexicana Teresa pela terceira vez.
Novelas mexicanas ou latinas foram uma das marcas da revolução televisiva que Silvio Santos comandou por uma vida inteira. Sem contar o sucesso de Chaves e Chapolin que dura até hoje mesmo sem ser exibido.
A ousadia de ligar para a Globo e perguntar porque a novela ainda não havia acabado, isso no ar prá todo mundo ver e o Silvio disse ao público mais ou menos com estas palavras: "Vocês que estão acompanhando a novela, fiquem tranquilos pois vocês não perderão a estreia de Pássaros Feridos que vai começar assim que acabar a novela lá".
Recentemente ganhei o boneco Silvinho, presente de um amigo muito querido. O boneco será a forma de lembrar de Silvio Santos e sua alegria cada vez que olhar para ele. Hoje, olhando para o Silvinho, pedi pelo descanso do grande comunicador.
Amanhã é domingo mas não um domingo qualquer. Vai ser apenas o primeiro dos muitos domingos com almoço de família, macarronada mas sem Silvio Santos.
Vamos apenas chorar porque sorrir e cantar, me descuplem, ainda não vai dar porque Silvio Santos não virá mais.
Obrigada, Silvio Santos. Obrigada por tudo.
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