Todos Contra o Coronavírus - A perda de entes queridos para o vírus

Imagem ilustrativa representando amizade

 Venho novamente escrever um texto para prestar serviço aos meus leitores sobre esses novos (e ingratos) tempos que estamos passando. 
E, ao mesmo tempo, deixando registrado um pouco de meus sentimentos acerca de tudo isso. 
Confesso à vocês que eu relutei muito em escrever esse texto, já que ainda dói e dilacera meu coração quando lembro que esta cena da foto jamais se repetirá outra vez. 
Foram mais de 20 anos de amizade entre esse querido amigo e eu.
Uma amizade que ultrapassa diferença de idade, fronteiras, tamanha força dela, que começou despretensiosa, sem sequer tomarmos conhecimento. 
Algo surreal nas nossas vidas. Sem maldade ou intenções. Algo tão grande, como o amor entre pai e filha. 
Era o mês de fevereiro de 1996 quando o conheci na biblioteca do clube que frequento até hoje. 
Ele, debruçado em arquivos de um jornal esportivo, organizava fichas e mais fichas de estatísticas de jogos do time escritas à mão, contando através disso uma gloriosa história traduzida em números e fatos que se encaixavam perfeitamente. 
Quem diz que o coração da gente segue alguma lógica? Ao contrário, o coração tem a sua própria lógica de agir e de fazer as coisas acontecerem, coisas incompreensíveis para a mente humana mas muito claras aos sentimentos que vem de dentro do nosso mais íntimo "Eu".
Entrei na biblioteca acompanhada por minha saudosa mãe e cheia de curiosidade sobre a história do meu time que até aquele dia eu sabia pouco ou quase nada. 
Fomos recebidas com cordialidade e simpatia. Pacientemente, ele me explicava tudo que eu queria saber, tudo que eu perguntava, em detalhes. 
Muitas vezes se repetiram esses encontros onde eu aprendia e ao mesmo tempo ganhava um amigo que quis saber um pouco mais de mim e eu dele. Nascia ali uma empatia muito grande, uma amizade desse tipo que não se explica porque nem mesmo nós compreendemos. Nascia ali algo que nos marcaria para sempre. 
Passou o tempo e ele foi morar no exterior. 
Nem mesmo distantes, deixamos de nos falar. Esse nosso abraço aconteceu depois de um tempo distantes quando ele veio lançar seu livro, resultado do trabalho que fizera na biblioteca do clube com as fichas de estatística tão bem organizadas por ele.
Recentemente, ano passado, nos reencontramos no mesmo clube, em outro ambiente. 
Conversamos e almoçamos juntos. Minha tia foi comigo e ela viu o quanto é forte essa amizade que nem a distância romperia. Ele estava passando uns dias no Brasil para rever a família e os amigos que deixou aqui. Foi uma tarde muito agradável, nem senti o tempo passar. 

Último encontro



O fato é que a comunicação entre nós jamais parou. Telefonemas, e - mails, redes sociais, enfim... coisas de amizade.
Quando foi domingo agora, soube através da postagem uma amiga incomum nossa que ele havia falecido vítima do Covid 19. Foi um verdadeiro choque, eu não sabia que ele estava doente e muito menos que estava internado. 
Quando vemos na TV ou ouvimos no rádio a dor e a tristeza de quem perdeu alguém querido para o Covid, não imaginamos sequer o mínimo da devastação dentro de nós. Ficamos paralisados, impotentes, sem ação. 
Inevitável pensar na família dele: esposa, filhos, sobrinhos, netos. Todos igualmente paralisados, sofrendo e muito. Nem se compara. Agora não só eu como também os familiares dele sabemos que em meio há frias estatísticas existe alguém que conhecemos e amamos. É dolorido, devastador, cruel. 
Ao mesmo tempo em que todos sofremos por ter alguém que entrou para a estatística das vítimas de uma pandemia fatal, ficamos temerosos por nós mesmos e redobramos os cuidados para não sermos nós as próximas vítimas. 
Ontem foi feriado no Brasil. 7 de Setembro, dia da Independência. E, como sempre, milhares de pessoas deixaram suas casas rumo ao litoral e outros destinos de turismo e lazer. O que causa sempre grandes multidões e aglomerações. Além disso há também eventos frequentes como festas de bairro e churrascos inocentes de fim de semana.
Parece que as pessoas estão perdendo o medo, que não se importam de correr o risco de ser mais um número frio nas estatísticas ou também conhecer o rosto amigo de alguém que se foi sem sequer ter o direito da última despedida. 
É preciso mudar a mentalidade, respeitar as regras e protocolos. Não é fácil, já que, depois de tanto tempo de uma "clausura" vemos que as coisas reabrem porém com restrições. A economia começa a despertar e a vida vai reiniciando seu curso aos poucos e nós, com desejo ávido de deixar o isolamento, muitas vezes não percebemos o quanto nos expomos a um inimigo desconhecido. 
Infelizmente nem todo mundo pode ter o privilégio de um isolamento completo por ter de ir em busca de seu sustento. Essas pessoas precisam sair e devem sair porém tem que ter duas coisas em mente: proteger - se, cuidar - se e quando terminar seu trabalho, voltar para seu lar. Sair só o essencial: trabalhar, comprar comida, remédios e se for necessário, exercitar - se, ajudar alguém que pede socorro. 
E aqueles que por ventura sejam privilegiados, cabe à eles ficar em casa para evitar contaminação. Usar a tecnologia que obviamente nunca substituirá o presencial, a vida real fora dos celulares e telas de computadores para se comunicar. Telefone ou para ouvir a voz, faça vídeo chamada para ver o rosto das pessoas queridas. Faça áudios e vídeos engraçados para as pessoas rirem, faça um desenho, cante uma canção, interaja virtualmente para que mais ninguém adoeça. 
Quando vier a vacina, vacine - se. Cuidem - se uns dos outros e nunca deixem de acreditar que dias melhores virão como na música do Jota Quest e possamos finalmente nos reaproximar de quem amamos demonstrando todo afeto sem restrições, máscaras ou distanciamento e fazer que no final de tudo isso nosso sacrifício valha a pena. Fiquem todos com Deus, cuidem - se e cuidem  do próximo. Tenho fé que sairemos disso juntos muito em breve. Basta que cada um faça sua parte. 

PS: Dedicado à memória de João Bosco Tureta. 


















































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