Daniel Craig: O Bond que rompeu padrões


Após seu quarto filme como James Bond, Pierce Brosnan deixava o papel. E agora? Quem assumiria o papel do agente duplo zero mais popular do mundo? 
Especulações pra lá e pra cá, burburinho e apostas de fãs de todo mundo que não paravam de circular pela rede. Todo tipo de teoria para saber quem "herdaria" o smoking, as armas, os carros, os martinis batidos não mexidos... o Bond life style.
Ser James Bond no cinema não é tão simples como ingenuamente imaginamos. 
O personagem é um clássico marcante na cultura pop britânica. 
Mais do que isso, Bond é, a exemplo da figura da Família Real, dos Beatles e da tradição do chá das cinco, um ícone mundial que nos remete imediatamente à Inglaterra. 
Ian Fleming, jornalista e comandante da Marinha Real Britânica, criou James Bond nos livros para sair da monotonia, satisfazer seu ego e restabelecer o orgulho patriota dos britânicos que precisavam de um herói mesmo que fictício. 
Por isso mesmo, Bond teve que seguir características muito específicas; físicas, de gênero e padrões de comportamento. 
Romper com tudo isso sempre foi polêmico e delicado. Sempre foi alvo de discussões na internet em sites de fãs e em sites especializados. 
Me lembro daquele outubro de 2005. Os holofotes se voltavam para o anúncio que viria para sacudir o mundo do cinema. 
Estava ansiosa, ainda mais porque era a primeira vez que acompanhava a transição de um ator para outro. Fazia somente uns poucos anos que eu tinha entrado num fã clube dedicado a 007 onde podíamos ler em tempo real todas as notícias e repercutir em grupos de discussão na internet ou eventos, nunca tinha acompanhado nada embora já gostasse de assistir aos filmes desde a minha infância. Só não tinha com quem compartilhar dessa paixão por um personagem tão fascinante. 
A espera enfim acabou  quando um bote da Marinha Real Britânica levou Daniel Craig até a fragata que serviria de local para o anúncio do novo 007. 
Entre uma pergunta e outra, flashes de máquinas digitais pipocando para fotografá - lo, os olhares do mundo do entretenimento se voltaram para a novidade.
Não só se voltaram como estavam perplexos. Havia algo diferente. 
Uma quebra de padrões logo de cara e que literalmente estava na cara; no porte e até nos cabelos de Craig. 
Blond Bond, ou melhor Bond loiro, fortão estilo academia. Tudo que ainda não se imaginava que Bond fosse.
Eu também estranhei, achei esquisito quando vi as primeiras fotos e vídeos fiquei na dúvida se aquela tinha sido a melhor escolha. 
Mas por outro lado, Bond precisava se reinventar para dar um novo fôlego e uma repaginada num personagem clássico mas que ao mesmo tempo estava sempre antenado com as tendências de cada época. 
No dia seguinte, à tarde, dei uma breve entrevista à Rádio Bandnews FM para repercutir a escolha de Craig sob a ótica feminina. 
Infelizmente não tenho esta entrevista salva nem gravei. O que lamento porque hoje sou ouvinte assídua desta rádio. 
Na entrevista eu disse que achava Daniel bonito porém não se encaixava para o papel de Bond pelo jeito do físico. Nem me liguei muito na história da cor do cabelo. 
Não tive motivos para rejeitar o ator no papel de James Bond, queria na verdade ver como ele se sairia, conhecer seu trabalho no cinema. Vi um filme, Munique, sobre o atentado nas Olimpíadas de 1972 em Munique na Alemanha. Assisti para ver Craig que mostrou nesse filme o porque de sua escolha para ser 007. 
Naquele filme tudo era perfeito esteticamente, diferentemente do que eu achava que iria acontecer com o novo Bond. 
A estreia de Craig tinha que ser especial e marcar época. E para isso, o título do filme viria justamente da adaptação do primeiro livro que Ian Fleming escreveu criando Bond: Cassino Royale. 
O meu primeiro impacto no cinema naquela época já foi pela situação na qual vi o filme. Numa sessão de premiére com cabine de imprensa junto.  
Para quem desconhece, a  cabine de imprensa é uma sessão feita para jornalistas assistirem qualquer filme e avaliá - lo em seus veículos de comunicação atribuindo notas. 
No caso deste, também realizou - se a premiére ou pré estreia para que fãs afortunados com convites fornecidos pela distribuidora do filme também assistam antes do público geral, uma espécie de "tietagem" da saga do personagem preferido, uma grande celebração.
Do início ao fim do filme, tudo se encaixando e fazendo sentido.  
Cenas de encher os olhos e até um reboot que a princípio eu não gostava da ideia ousada demais porém, como transpor para a tela o primeiro livro se não nos "esquecêssemos" um pouco de tudo que víamos nos vinte filmes anteriores? 
Essa renovação passou também pela escolha música You Know My Name de Crhis Cornell  que tem uma batida forte numa pegada rock para dar aquele tom de ação o tempo todo que Cassino Royale pedia. 
O jeito fortão, desengonçado sexy de Craig trouxe um Bond ideal para aquele contexto mas ainda era preciso acostumar com esse estilo mais moderno. 
Aliás, o ator recebeu muitas críticas e uma rejeição pelo mundo através da frase "Craig is not Bond" (Craig não é Bond). Injusto na época, e a meu ver, injusto agora. 
Queiram ou não, todo o falatório em torno disso, transportou Bond para um novo século e recebeu um fôlego a mais para a franquia. Reacendeu o entusiasmo e começou a formar uma nova geração de fãs que levarão adiante todo um legado de décadas. 
Com o passar dos filmes, Daniel Craig foi aperfeiçoando o seu 007. Evoluindo. 
É uma era à parte dentro da franquia que forma uma espécie de arco contando uma parte desconhecida do passado de James Bond mas o cânone ainda está lá, intacto. Podemos ver porque as referências existem
A era Craig também foi marcada por perdas dolorosas. Perdemos para a morte dois Bonds lendários: Roger Moore e Sean Connery, pela ordem de partida. 
Depois de alguns adiamentos, no próximo dia 30 finalmente vai estrear o filme No Time to Die (007 Sem Tempo Para Morrer) para fechar o ciclo do Bond de Daniel Craig e preparar terreno para o próximo ator que vier. 
Foi lançado recentemente um documentário chamado Being  James Bond (Ser James Bond) pela Apple TV sobre a era Craig e ao final, o ator faz, ainda vestindo o tradicional smoking, um lindo e emocionante agradecimento por estes anos todos na franquia. 
E ontem complementou este agradecimento no programa Grahan Norton Show (Rede BBC de Londres) com uma frase que certamente vai entrar para a história da franquia de maior duração no cinema mundial: 

"Estou feliz por terminar do meu jeito. Sou grato aos produtores por me permitirem fazer isto, mas vou sentir falta.
Provavelmente ficarei incrivelmente amargurado quando a nova pessoa assumir".  
(Daniel Craig) 
 
Eu, como fã dos filmes e livros de 007 só posso encerrar este texto respondendo a esta frase dizendo que Craig fez história, escreveu seu nome para sempre na franquia. 
Do jeito dele. 
E que sou grata por acompanhar de certa forma uma era inteira tão de perto. 
Com certeza estarei, em algum cinema em São Paulo, no Brasil assistindo ao novo filme que encerra uma etapa histórica da franquia e também marca meu retorno aos cinemas, já vacinada e tomando todo cuidado depois de tanto tempo. 
Obrigada, Craig eu é que agradeço. Meus aplausos pra você. 

 

Comentários

  1. O que me chamou a atenção ao ver a apresentação de Craig foi sua aparência, não o fato de ser loiro. Roger Moore também era. "Fortão" não era atributo notável também, pois quando ele foi apresentado oficialmente para a imprensa era impossível perceber algo assim ( precisaram fazê-lo treinar musculação e apelar para aquela cena dele saindo da água, algo inimaginável para os outros atores que não precisavam de tantos artifícios para ser aceito no personagem). Aliás, ninguém comentou algo dessa natureza. Os paradigmas quebrados foram dois: O fato dele ser baixo ( em comparação aos atores anteriores) e sua aparência comum, de um cara que se encontra em cada esquina. Craig é o Bond inclusivo, aquele cara que qualquer um consegue se identificar. E é isso que o público atual quer: Se sentir representado. Até Brosnan, Bond era quem todo homem queria ser. Craig não é um arquétipo, é o símbolo da massificação estética de um personagem que representava a epítome masculina; um homem naturalmente elegante, que chamava a atenção não só por sua altivez, mas por sua aparência notável. Sean Connery, Roger Moore, Timothy Dalton, Brosnan representavam muito bem isso. Craig é o segurança de boate que vai apartar uma briga; o personagem terciário de um filme, fazendo o capanga de gângster; seu carisma e elegância beiram a zero ( claro, uma opinião e por conta disso é bastante subjetiva). Para mim, Craig simboliza uma fraude que usa a marca James Bond para garantir audiência. Com ele, Bond começa sendo um quarentão que não sabia se vestir ( precisou conhecer uma mulher para ensiná-lo) nem se comportar com disciplina ( chegou a invadir a casa chefe do MI6 no primeiro filme);. ou seja, um Bond "do povão", da geração Pablo Vittar. Que tempos vivemos....

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    1. Eu acredito q Craig foi escolhido para se romper com mtos padrões e trazer Bind para o século XXI
      O propósito foi cumprido (com mtos exageros)
      Mas, se cada um deixou sua marca, a de Craig foi essa, romper padrões. E ele fez... do seu jeito.

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