Ainda há Pessoas Humanas e espaço para um pouco de solidariedade no mundo moderno

No mundo moderno, cada vez mais individualista e violento onde encontramos pessoas em seus "pequenos mundos", seja virtual ou real, parece que algo essencial como dizer um cumprimento conforme a hora do dia, perguntar como está aquele amigo ou familiar que não se vê ha tanto tempo, praticar gestos de gentileza e solidariedade sem querer nada em troca em favor de pessoas desconhecidas, tudo isso foi um pouco esquecido. Motivados por uma busca por segurança talvez. 
Mas de vez em quando, algumas pessoas criam coragem para quebrar essa máxima. 
Sou fã do seriado Chaves, todo mundo que já teve algum contato comigo sabe disso. E sempre assisto as exibições na TV e quando posso, acompanho notícias na internet. Para me divertir.
Isso não teria nada demais pois sou como tantos outros fãs brasileiros e outros tantos espalhados pelo planeta. Mas, diante de uma grande tristeza que eu passei, isso mudou. 
Tudo começou na Bienal do Livro de 2012 na tarde de autógrafos do Edgar Vivár que faz o papel de Senhor Barriga, o dono da Vila , cenário central das aventuras de Chaves. Como tantos, estava na fila aguardando a minha vez de chegar perto dele para pegar o autógrafo num livro que estava sendo lançado. De repente, desabei de chorar quando ouvi uma voz familiar. Minhas emoções misturadas: alegria de estar lá e ver alguém que passei minha infância assistindo pela TV. Tristza pela doença de minha mãe e de minha avó. Minha mãe sacrificou - se (e muito) para me levar até lá. 
Bem... a tal voz conhecida conversava com alguém que não sei quem era. Em tom normal. Mas uma personagem do Chaves ficava na minha cabeça: Chiquinha, a menina filha do Sr. Madruga, moradora do 72 e amiga dos meninos da vila. A voz era da dubladora Cecília Lemes que faz a versão em português da personagem. 
Não consegui conter as lágrimas pois foi o mais próximo que cheguei de um personagem do meu seriado preferido (ainda não tinha chegado perto do Edgar Vivár até aquele instante). 


Cecília Lemes e eu na Bienal do Livro 2012


Passou o tempo e comecei a acompanhar Cecília no Facebook, via seus posts, comentava alguma coisa e tal. E com o passar do tempo, a doença da minha mãe foi se agravando até falecer. 
Sem a menor força de postar a triste notícia mas com necessidade de avisar amigos e parentes , pedi a um primo que postasse em meu nome usando minha senha. 
Amigos e parentes compareceram ao velório, todos para prestar sua solidariedade a mim e minha família.
Mas, quando fui para casa descansar, uma de minhas tias disse que uma pessoa que me conhecia da internet tinha ido ao velório da minha mãe eu jamais imaginei se tratar de ninguém menos que Cecília Lemes, a dona de uma das vozes que eu ouvia desde muito pequena e que ouço até hoje. É só ligar a TV.
Fiquei sem saber o que fazer porque quando você acompanha o trabalho de uma pessoa pela TV, você às vezes pega uma certa "intimidade" afinal, a pessoa entra sempre em sua casa sem "pedir licença" e mesmo assim, você gosta dessa "invasão".  E ela entrava apenas com a voz.
Passei um  ano, procurando as mais diversas formas de me encontrar com Cecília para lhe dizer obrigada. E quase estava escrevendo para programas de TV. Era muito difícil conseguir porque
uma pessoa como ela, muito requisitada, famosa, cheia de compromissos difícilmente conseguiria reservar um tempinho para receber os agradecimentos de uma fã como tantas outras que estava chorando, triste, precisando de apoio para atravessar o pior momento da sua vida, e encontrou numa pessoa tão familiar e tão distante ao mesmo tempo, o conforto que precisava.
Tentei de tudo, procurar eventos próximos de minha casa, ajuda de amigos, mandar mensagens.
Depois de muito tentar, consegui.
Cecília Lemes e eu no Mc Dia Feliz 2015

Mandei uma última mensagem para ela e fiquei surpresa quando a resposta veio. Cecília queria meu telefone para conversarmos. Passei o número, horas depois, recebi a ligação onde conversamos longamente. Ela também queria me ver mas não sabia onde me encontrar. Combinamos  de marcar uma data para isso porém, o destino deu um "empurrãozinho". Através do Facebook de um dos fã clubes do Chaves eu soube que sábado ela estaria apoiando  o Mc Dia Feliz, um evento em que pessoas do Brasil todo que fossem à uma lanchonete do Mc Donald´s e pedisse um Big Mac e a renda iria para instituções que cuidam de portadores de câncer infantil. Pedi que minha tia me levasse, não podia perder a oportunidade. E lá fomos nós.

Solidários Del Ocho 
O grupo Solidários Del Ocho fez uma ação no Mc Donald´s da Hermano Marchetti, Água Branca, zona Oeste de São Paulo e Cecília estava lá como voluntária do Rotary Clube Pacaembu, acompanhada de seu marido Luiz. Fiquei muito contente em revê - los. Foi emocionante. Palavras nunca serão suficientes para descrever tudo que aconteceu ali. Pude, finalmente agradecer por tudo, Foi algo que não sei explicar. Só sei dizer um muito obrigada pois a voz que me fez rir foi também uma das que me consolou quando mais precisei. Jamais esquecerei esse gesto de Humanidade. Me senti muito melhor depois disso.Talvez se o mundo tivesse mais "Cecílias e Luízes" seria bem mais solidário e gentil. Obrigada, te amo muito.



Luiz e "Chiquinha"





Dedicado com carinho e amor à Cecília Lemes e Luíz Bortolli e ao pessoal dos Solidários Del Ocho





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