De uma fã para Hebe Camargo



Eu tinha quase doze anos quando numa terça - feira assisti na TV ao primeiro programa Hebe que estava estreando no SBT.
Bailarinos vestidos de fraque e cartola e bailarinas com plumas brancas dançavam e ladeavam a entrada do palco. Uma cena mágica que mais parecia vindo de um musical americano de teatro, desses clássicos dos grandes shows da cidade de Las Vegas que podemos ver em filmes. 
Entre os bailarinos surge Hebe Camargo, como uma rainha em seu lindo vestido preto e branco brilhante e umas ombreiras largas. Ela pega seu microfone e as fichas do programa e vai cumprimentar amigos e fãs. Gostei de ter visto aquilo porque, sendo mulher, o brilho e a beleza dos vestidos longos, jóias, acessórios e elegantes sapatos de salto alto (que infelizmente jamais poderei usar por causa de um problema de nascença) me fascinavam.  E nunca tinha visto uma mulher vestir essas peças com tamanha elegância e assim permanecer até o fim do evento a não ser, claro, a saudosa Lady Diana que foi uma mulher elegante mesmo em roupas simples quando estava no Palácio de Kensinghton tendo por companhia seu marido e os filhos.
O fato é que, naquele dia 04 de Março de 1986, vi na TV uma artista que nunca tinha ouvido nem falar, embora ela mesma tenha uma participação direta e muito importante nos primeiros tempos da TV brasileira, a ponto de até hoje ser A Rainha da Televisão Brasileira, título que jamais saiu de suas mãos.
Eu não a conhecia, não sabia seu nome e nem em que canal trabalhou antes do SBT pois minha família inteira assistia com mais frequência a programação da TV Globo, a não ser aos domingos quando assistíamos o Programa Silvio Santos e após, o Fantástico, que aliás eu só assistia para ver uma zebra de desenho dar o resultado da loteria esportiva baseado na rodada dos principais campeonatos regionais ou nacionais de futebol. Mas como só tinha uma TV na minha casa naquela época, o domingo depois do Silvio Santos era chato e sem graça.
Durante a semana no entanto, depois da novela das 8 eu poderia assistir o que quisesse em alguns dias. Hebe Camargo sempre foi minha opção das terças feiras.
Comecei também a gostar do jeito descontraído que ela entrevistava convidados que na maioria eram artistas que estavam no auge e também aqueles com os quais ela conviveu além de autoridades e figurões do governo e os números musicais de todos os gêneros com uma orquestra tocando ao vivo já que Hebe sempre gostou e conviveu com isso por causa do pai, Fêgo Camargo, que era violinista e também de seus tempos de crooner de orquestra em casas noturnas e, posteriormente, cantora, tudo isso como se estivesse na sala da casa de cada pessoa que via o programa. Tanto que no cenário havia um sofá, desses que podemos ver na nossa própria sala, onde também recebemos nossos "entrevistados" que são a família e os amigos.
A cada semana eu acompanhava seus programas e com esse hábito, fui me tornando uma jovem fã de Hebe Camargo.
 Eu ficava deslumbrada a cada semana com as roupas e jóias da Hebe. Queria poder copiar seu estilo. Queria "ser Hebe" e com isso eu comecei a usar pingente, pulseiras e anéis de bijuteria no dia a dia. Antes eu usava essas coisas para sair na rua e quando tinha casamento ou formatura. E também comecei a usar no meu vocabulário diário o famoso "gracinha" para elogiar alguma coisa ou alguém.
Foi com Hebe que também aprendi a passar batom sem espelho e sentar cruzando os tornozelos, um jeito de sentar que segundo ela é muito elegante, feminino e adequado pois dependendo do cumprimento da saia não aparecia sua roupa íntima além de te manter com a postura reta e confortável. Vira e mexe, quando estou sentada, fico nesta posição involuntariamente.
Como todo fã, cultivei o sonho de conhecê - la pessoalmente. Chegar perto dela mas não foi possível. O máximo que consegui foi vê - la na Parada da Criança promovida pelo SBT nos anos 1980 bem de longe do alto de um carro alegórico. Isso não conta. Tive uma colega de escola chamada Hebe que era muito legal e o nome dela foi uma homenagem feita pela avó que era fã da apresentadora.
Ao longo de todos esses anos, eu tive três oportunidades de conhecer Hebe mas elas não se concretizaram. A primeira delas, em 1999, seria numa livraria no shopping Morumbi onde Hebe lançou um livro de fotos de sua carreira chamado "Hebe, a Trajetória de uma estrela". Não fui pois era muito longe da minha casa e seria tarde, 21:00 h, voltar para casa de ônibus seria impraticável.
A segunda oportunidade ocorreria em 2003 na terra natal da estrela, a cidade de Taubaté, no Vale do Paraíba em São Paulo. E o melhor, estaríamos juntas o tempo inteiro. Isso porque seríamos homenageadas pela Câmara Municipal de Taubaté por ocasião do Dia de Amácio Mazzaropi, famoso cineasta que, apesar de paulistano de nascimento, fez sua carreira cinematográfica toda em Taubaté. Ele também era amigo da Hebe desde os primeiros tempos na TV e até fizeram o programa Brigada da Alegria juntos. A homenagem era pela ocasião do aniversário natalício do humorista e Hebe receberia a homenagem por ser amiga de Mazzaropi, assim como a atriz Vida Alves e o ator João Restiffe, membros da ProTV, associação de veteranos da TV presidida por Vida Alves que guarda arquivos raros da história da TV no Brasil.
Eu recebi a honraria como a fã mais jovem e também vinda de outros municípios juntamente com outra fã de Minas Gerais.
O que aconteceu foi que Hebe recebeu o convite ao vivo no seu programa através do empresário João Roman Neto, diretor do Instituto Mazzaropi e proprietário do Hotel Fazenda Mazzaropi. Fiquei imensamente feliz até porque eu achava que finalmente eu ia conhecê - la.
Eu fui para Taubaté acompanhada por minha mãe, estava muito ansiosa mas Hebe não foi.
Antes de ir para a Câmara Municipal, desci ao restaurante do hotel para fazer um lanche rápido. Encontrei João Roman que também fazia seu lanche. Nos cumprimentamos e disse que tinha visto ele na Hebe. Perguntei se ela iria para a solenidade. Ele disse que não pois ela havia telefonado para dizer que tinha muitos compromissos. Mas não fiquei triste. No outro dia conheci o Conservatório Musical Fego Camargo e vi no jardim um busto dele. Foi emocionante apesar de não poder ver o conservatório por dentro.
A outra oportunidade foi numa possível caravana para o programa Hebe na Rede TV. Estava quase tudo acertado para eu assistir à gravação ao lado de minha mãe, minha tia e uma vizinha. Mas acabou não dando certo porque a caravanista disse que haviam cancelado a gravação.
Acabei não conhecendo Hebe. Ela já estava em tratamento, já quase não trabalhava e os programas foram reprisando até que ela voltou para o SBT. Ficou pouco tempo, um mês eu acho até que deixou para sempre a TV, faleceu rápido.
Não realizei o sonho de conhecer Hebe mas sentei no famoso sofá dela numa exposição temática em 2011 pelos 30 anos do SBT. Sentei com os tornozelos cruzados como ela fazia. Minha homenagem foi estar em seu cenário.






Em 2017 fui ao teatro Procópio Ferreira assistir Hebe O Musical, roteiro escrito por Artur Xexéu, baseado no livro Hebe A Biografia também de autoria dele. Me emocionei muito com o musical.
As atrizes Carol Costa e Debora Reis como Hebe em duas fases da grande estrela estavam  impecáveis. E há poucos dias eu terminei de ler a biografia. Foi impactante para mim e, se não tive a oportunidade de conhecer Hebe, tirar foto com ela ou ter seu autógrafo, conhecer a carreira e a vida desta grande mulher através do musical e do livro foi maravilhoso, foi lindo de viver, como Hebe dizia sempre. Então, mesmo sem ver, valeu muito a pena "te conhecer" Hebe "Gracinha" Camargo.  Um selinho pra você aí no céu e Viva a Vida!



PS: Texto dedicado à memória de Hebe Camargo e ao filho Marcello Camargo. 

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