Meu nome é Bond...James Bond - Capítulo 10 - Espião e Amante (1962)




Olá, estou de volta. Este é o nosso décimo capítulo da jornada que iniciei sobre os livros de Ian Fleming e os filmes de 007. Desta vez vou falar de um livro um pouco fora do convencional.
Em Espião e Amante conhecemos Vivien Michael (Viv para os íntimos). Ela teve uma grande decepção amorosa com o excêntrico Dereck, um playboy britânico frequentador da alta sociedade, incluindo autoridades importantes e cabeças coroadas.Viviane se entregou à Dereck e depois foi abandonada por ele por ser uma plebéia. Vemos aqui o início da luta de classes sociais e também muito preconceito.
Dereck é a grande paixão de Viv.
Segundo o jornalista Eduardo Torelli, autor do livro Sexo, Glamour & Balas, Viviane nada mais é do que a figura fictícia que representa o grande amor da vida de Ian Fleming: Monique, uma moça humilde e de vida muito simples.
Ian e Monique eram muito apaixonados e pensavam até em se casar. Por pressões familiares dos pais dele, o casamento não saiu. Traumatizado com isso, nunca mais se apaixonou porque nunca esqueceu seu grande amor. Este livro a princípio é uma linda homenagem velada ao grande amor que eles viveram. E á própria Monique.
Ele tem uma curiosidade: Diferente dos demais livros onde um narrador (talvez o próprio Ian Fleming) são do sexo masculino, temos a narração de Viviane Michael. Algo muito parecido com o que ocorre nesses romances de banca de jornal onde algumas estórias são narradas por mulheres. Uma leitura mais delicada e leve que agrada mais as mulheres mas que não deixa de ter o tom machista característico na obra de Ian Fleming para satisfazer a maioria de seu público que é em grande parte formado por homens e de acordo com a época em que foi escrito.
Notamos isso no decorreer do livro quando Viv, já abandonada por Dereck tenta refazer sua vida, "juntar os cacos" de um coração ferido
É nesta fase que ela conhece Kurt Renier, diretor de uma agência de notícias britânica. O romance com Kurt tende a ser calmo e descomplicado até a gravidez de Viv.
Novamente abandonada, ela provoca um aborto. Um ponto polêmico para a época talvez e hoje em dia continua sendo, em todo o planeta.
Com algumas economias, Viviane compra uma moto Vespa.
Seria Vesper, personagem do primeiro livro de Ian Fleming, Cassino Royale, uma homenagem velada à Viv, através da moto dela?
Nunca saberei. Isso foi apenas um pensamento rápido que tive enquanto escrevi e nem sei porque isso veio à minha cabeça. Apesar de que Vespa é uma marca de moto, ou modelo, sei lá, muito popular na década de 1960. Pode ter sido coincidência apenas. Realmente não sei.
Continuando a falar do livro: Viv viaja sozinha em sua moto para os Estados Unidos em busca de uma cura para mais uma decepção amorosa.
Ela se hospeda num hotel beira de estrada, o Dreaming Pines. Aceita um trabalho por um salário irrisório para cuidar do lugar no fim de semana. E, apesar de tudo, sente - se animada pela ausência de companhia, seja de hóspedes ou zeladores.
O que talvez puxe um pouco pela memória do leitor de Fleming e seu apego emocional pelas obras do escritor é a invasão de dois bandidos no hotel. Bandidos do tipo "comum" que infelizmente vemos na nossa vida real, a não ser pelos nomes Sluggsy e Horror, bem típicos do mundo fleminguiano. Essa invasão ocorre durante uma pausa em que Viv está preparando um cafézinho.
Na verdade, esses bandidos trabalham para o dono do hotel, Sr Sanguinetti (cujo nome é apenas citado no livro). Seu plano é colocar fogo em Dream Pines para beneficiar - se do seguro sem deixar nenhuma evidência de um incêndio criminoso.
De madrugada, Viviane é espancada pelos dois bandidos E quando ela está quase sofrendo um estupro, Bond aparece no hotel procurando abrigo para se proteger da noite fria.
Com essa situação, a moça fica com uma dúvida que é pertinente até mesmo para nós Bond maníacos: 007 seria um herói ou um anti - herói? Já que ele usa da permissão para matar se isso for preciso.
Viv olha para Bond e lhe pede ajuda apenas com o olhar. Bond compreende o pedido e passa a noite no hotel alegando que o pneu de seu carro furou. Assim ele pode proteger Viv de ser molestada outra vez. A partir daí o que vemos, basicamente um tórrido romance entre Viv e Bond trancados num quarto, cenas ardentes e uma Viv totalmente recuperada de seus traumas amorosos .
Talvez esse livro desse certo no cinema se fosse com outro personagem, talvez sendo um outro tipo de filme mas não com James Bond.
E por isso mesmo, em 1977, quando este livro virou filme, praticamente ele teve de ser reescrito para agradar os fãs do cinema.
Os roteiristas Richard Maibaum e Christopher Wood resolveram fazer a temática de Com 007 só se Vive Duas Vezes substituindo o espaço pelo mundo sub aquático.
Para realizar esse filme, não teve economia. Albert "Cubby" Broccolli investiu muito na produção do filme Contratou um atleta medalhista de esqui e dois cinegrafistas para fazer a grandiosa cena de perseguição na neve e salto realizado com êxito e sem cortes na cena que abre o filme. Mesmo com um acidente envolvendo um dos cinegrafistas quando tentava o melhor ângulo, a cena foi perfeita. Felizmente o segundo cinegrafista foi rápido para captar a cena que vemos no filme.
 Construiu também um set com um gigantesco tanque de água, projetos de Ken Adam, que voltava à franquia 007 após uma ausência. Tão grandioso e digno da megalomania de Fleming nos livros. Quebrando até recodes de orçamento, tudo para dar um novo fôlego para a franquia. Locações como Sardenha, Egito e Bahamas foram usadas no filme. Para um filme grandioso, viagens grandiosas com locais de encher os olhos.
A trama é completamente diferente do livro. Aqui vemos Karl Stromberg . Ele quer destruir a humanidade como a conhecemos e estabelecer uma nova ordem vivendo num mundo subterraneo. O esconderijo de Stromberg é lindo e suntuoso. Ao mesmo tempo é serve como um meio de transporte que pode também levar pequenos submarinos que tinham alto poder destrutivo. O vilão pode até ser considerado como uma "versão alternativa" do clássico Blofeld. Apesar da trama do livro ser diferente entre livro e filme, há um ponto em comum entre as "duas versões" do Espião que me Amava", a Bond girl apaixonada por alguém que não é James Bond. Algo que de certa forma está escrito no coração de cada fã de 007. 

Eu retornarei em: A Serviço Secreto de Sua Majestade   

PS: Essa série de textos é dedicada à memória de Ian Fleming e também aos amigos Lucian e Rildon que me incentivaram a fazer essa experiência. Obrigada, amigos. Beijos.


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