Meu nome é Bond...James Bond - Capítulo 12 - A Morte no Japão (1964)

" Só se vive duas vezes
A primeira ao nascer, e a outra 
Quando se olha a morte face a face" 

Com esta frase de um poeta itinerante  japonês que viveu entre 1643 e 1694, inicio mais um capítulo desta série sobre os livros de Ian Fleming e os filmes adaptados para o cinema. A frase também abre o livro do qual irei falar hoje. 
Este é um livro peculiar que exalta também alguns costumes da cultura oriental. 
Nesta estória, James Bond está próximo de seus últimos dias trabalhando para o Serviço Secreto Britânico. É sua última chance de mostrar serviço. 
007 ainda está em processo de luto pela morte da esposa Tracy (007 A Serviço Secreto de Sua Majestade) e por causa disso, fracassa em duas missões importantes. 
Discretamente, ao mandar seu melhor homem para o Japão, M dá um aviso definitivo: Ou Bond realiza com êxito sua missão ou é o fim da carreira dele como agente duplo zero, visto que a missão é de suma importância naquele país e também em todo o Oriente. 
 Uma particularidade deste livro é que Ian Fleming não o escreveu sozinho. Devido à fragilidade da saúde do escritor, ele recebeu a colaboração de Kingsley Amis, que mudou a linguagem e algumas coisas que não nos permitem um reconhecimento imediato do personagem James Bond. 
É um pouco chocante para o leitor que está acostumado  com o ritmo de Ian Fleming porém, a essência dele continua presente de alguma forma assim que conseguimos finalmente reconhecer o personagem tão familiar. 
A missão de 007 nesta estória é ir ao Japão e procurar "Tigre" Tanaka, chefe da agência de espionagem japonesa (Chôsa Kiôkel) para que ambos compartilhem o conteúdo criptografado do aparelho Magia 44, desenvolvido por técnicos daquele país e também por americanos. Esta tecnologia interceptou mensagens secretas soviéticas vindas de Vladvostok e da Rússia Oriental. 
Um fato importante é que o Japão opera em conjunto com os Estados Unidos, que na verdade está "colonizando" o país nipônico. 
Antes da viagem, Bond recebe a informação de que, para conseguir executar bem sua missão é necessário que ele se disfarce de cidadão local para não despertar suspeitas. 
Suas habilidades em como lidar com assassinos e terroristas bem como seu poder de convencimento são inúteis. 
Desta vez, por ordem da Coroa Britânica, Bond terá que pensar antes de agir. Antes de seu encontro com "Tigre", ele precisa se ambientar e é instruído pelo australiano Dikko Henderson aliado do Serviço Secreto Britânico e que conhece o comportamento oriental. Diz ele que os "amarelos" fazem tudo ao contrário. Esta afirmação é uma percepção pessoal de Fleming sobre as diferenças culturais entre Oriente e Ocidente feita quando o autor viajou à terra do Sol Nascente em 1959 e em 1962. Viagens que inspiraram o livro  A Morte no Japão. A primeira feita em três dias e a segunda, mais longa e divertida que durou quase um mês em companhia dos amigos também jornalistas Richard Huges e de Torai Saito (homenageados por ele com a criação dos personagens Dikko Henderson e Tigre Tanaka respectivamente). 
Fleming ficou muito encantado com o país. Visitou academias de judô, templos xinoístas e casas de gueixas apesar do julgamento leviano de seu amigo Henderson sobre o modo de vida oriental. 
Foi uma viagem que ele aproveitou muito pois obteve muito conhecimento. Muito desse aprendizado podemos notar nas páginas do livro.
O Japão sob a visão de 007 já naquela época era um misto de tradição como os templos, castelos e crenças quase medievais em contraste com a a moderna tecnologia da Magia 44 usada por Tanaka  para grampear conversas e rastrear os passos do espião britânico.
Tanaka vai com a cara de Bond e até permite que ele também use a Magia 44. Porém pede que 007 entre no castelo que fica em Kyushu que pertence a  de um tal Dr. Gunthan Shatterhand, médico suíço, e o mate.
O Dr Shatterhand desembarcou no Japão ha dez meses e tem sido um obstáculo para o governo japonês ao fazer ressurgir a seita dos Dragões Negros .
No filme, a missão não muda muito. Envolve a corrida espacial entre EUA Rússia. O vilão é o clássico Blofeld que quer atacar com seu arsenal tanto Rússia quanto EUA e fazer com que ambos os países se ataquem mutuamente. Neste filme, ele finalmente revela seu rosto.
Blofeld parece nem ligar para a existência de Bond que é dado como morto no começo do filme pois Ele é atingido por vários tiros enquanto está na cama com uma chinesa.
Mas a morte forjada de 007 é um plano elaborado pelos serviços de inteligência do Japão e da Inglaterra.
Bond é mandado para um treinamento com "Tigre" Tanaka e sua equipe para aprender a viver como um japonês e também utilizar - se de toda a tecnologia que o oriental o oferece.
Há também uma breve aparição de Gala Brand, personagem do livro Os Diamantes são Eternos.
Também temos Kissy Suzuki e Aki .
Mesmo com a missão muito datada, já que ela se dá no começo da corrida espacial que culminou com a chegada do homem à lua, mas também pode ser atemporal pois nos mostra com riqueza de detalhes, assim como no livro, muita coisa da tradição milenar oriental.
Hábitos de comportamento e alimentares e também cerimônias como um funeral e o casamento de  fachada entre 007 e Kissy Suzuki para manter o disfarce, passando também pelas artes marciais incluindo o sumô.
E também vemos o hilariante processo de transformação de Bond em um autêntico japonês incluindo banho com massagem feito por gueixas e até depilação do peito. O resultado é uma das coisas mais bizarras que já vi.
Depois desse filme, Sean Connery deixa o papel de 007 no cinema, alegando que o personagem roubara para si a popularidade e o constante assédio da imprensa e do público, como no curioso dia em que estava almoçando no trailer do set de filmagens do Japão e a todo instante era interrompido para dar autógrafos ou responder perguntas. Era sempre chamado de James Bond ao invés de seu nome verdadeiro. Preço da fama que acredito que ele pague até hoje.
Para quem gosta de espionagem e uma cultura exótica, este livro é uma boa escolha com certeza.

Eu retornarei em: O Homem do Revólver de ouro







PS: Essa série de textos é dedicada à memória de Ian Fleming e também aos amigos Lucian e Rildon que me incentivaram a fazer essa experiência. Obrigada, amigos. Beijos.







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