Meu Nome é Bond... James Bond - Capítulo Especial (Suplemento Número 003) - A origem literária de 007

 "Às três horas da manhã, o ambiente de um cassino é praticamente irrespirável: o suor e a fumaça misturam-se para resultar num cheiro quase nauseabundo. É nessa hora que o jogo alto começa a corroer a alma dos jogadores, com um misto de avareza, de medo e de tensão nervosa. E é nessa hora que esta sensação se torna insuportável, os sentidos do jogador acordam e se revoltam. De repente James Bond sentiu que estava cansado Ele sempre sabia quando seu corpo e sua mente estavam esgotados e sempre agia de acordo com isso".

(trecho inicial do primeiro capítulo de Cassino Royale de Ian Fleming publicado em 1953)

Há 70 anos, com essas palavras, o jornalista e comandante da Marinha Britânica Ian Fleming, sentado na mesa de trabalho na tranquilidade de Goldeneye, sua casa de veraneio em Oracabessa Bay na Jamaica, começava a criar a primeira aventura do agente secreto britânico James Bond 007. 

Nesta estória Bond e o vilão Le Chiffre se enfrentam em um jogo de baccará. Além disso, podemos conhecer a fascinante e glamurosa atmosfera dos cassinos. Vesper Llynd dá o toque feminino com ar de mistério que fascina os leitores, outros personagens e até o próprio Bond. 

Trata - se de uma leitura deliciosamente leve que envolve o leitor sem que ele perceba. 

Ian Fleming escrevia como uma terapia para fugir da realidade e construir seu mundo ideal. Queria ser o superespião, rodeado por belas mulheres, beber e comer do bom e do melhor hospedado em lugares paradisíacos. Para isso criou uma rotina que era seguida à risca por ele em seu paraíso particular. Trago para rsse texto a transcrissão dos hábitos do autor, narrada em primeira pessoa retirada do livro Sexo, Glamour & Balas de Eduardo Torelli:

“Levanto-me com os passarinhos, o que significa à 07:30 horas, e vamos eu e minha mulher dar um mergulho no mar, antes do café. Não usamos trajes de banho, já que estamos completamente isolados. Depois, tomamos um café reforçado, geralmente com ovos mexidos, e em seguida sento-me ao sol por alguns instantes. Das 09:30 às 12:00 horas escrevo, sem que nada interfira em meu trabalho. Sento-me em minha sala e datilografo mil e quinhentas palavras seguidas, sem ler o que escrevi na véspera. Sou da opinião de que não se deve interromper a redação de uma narrativa rápida com muita introspecção e autocrítica. O essencial é escrever corridamente para não perder o ritmo da narrativa, deixando as correções para quando o livro estiver terminado. Ao concluir meu trabalho matinal, saio com meus óculos de mergulho e arpão pelos recifes e volto para um bom almoço seguido de um cochilo de uma ou duas horas. A seguir, outro mergulho e uma hora final de trabalho, das 16:00 às 17:00 horas, para completar duas mil palavras por dia. Após o jantar, jogo um pouco com minha mulher e vou cedo para a cama, adormecendo quase instantaneamente. A rotina prossegue por umas seis semanas e só quando o manuscrito está completo começo a fazer a revisão, reescrevendo certos trechos. Já nessa fase preocupo-me com palavras e frases, verificando a ortografia e os fatos.”

Os livros de Ian Fleming mostravam uma Inglaterra imponente no cenário internacional diferente da realidade em que o país estava, tentando abandonar a imagem país colonizador, apagar escândalos diplomáticos e melhorar a imagem dos espiões. 

Em pouco tempo, Cassino Royale fez tanto sucesso que Ian Fleming passou a escrever praticamente um livro por ano. Mas as livrarias se tornaram pequenas demais para uma obtra tão grandiosa. Ian Fleming que já ganhava uma soma considerável com a venda dos livros, arriscou - se no cinema vendendo os direitos de adaptação para Albert Broccolli e Harry Saltzman, uma dupla de produtores de filmes que começara sua caminhada. 

Na literatura, escritores como Raymond Benson, Charlie Higson (que criou uma série de livros mostrando como seria um James Bond adolescente), Sebastian Faulks, Jeffery Deaver, Willian Boyd e  Anthony Horowitz com o aval do espólio de Ian Fleming cointinuam a escrever livros com tramas atualizadas preservando o cânone. 

Nem mesmo Fleming seria capaz de imaginar que aquele espião com um nome "comum" retirado de um Ormitólogo autor de um livro que tinha na estante de sua casa se tornaria um personagem tão grandioso que dita um padrão próprio, hábitos, moda e retrata o comportamento de uma época. Nem é preciso dizer foi um sucesso em todo o mundo (e ainda é).  

Hoje em dia, ao menos no Brasil, vemos poucas edições novas desses livros e na era do politicamente correto em que estamos agora, querem adequar a linguagem de obras literárias de grandes escritores. Ian Fleming está entre eles. Pessoalmente, discordo disso pois acho que "reescrever" o passado não é a melhor forma de corrigir os erros cometidos. A melhor forma seria que novos autores com estórias inéditas não cometessem mais tais erros. 

Em entrevista rara, Fleming, já naquele tempo opinava a respeito disso: 

"Meus livros são feitos para adultos heterossexuais de sangue quente... para serem lidos na cama, no trem e no avião. Não são para crianças."

Para terminar, deixo aqui o link de uma live que participei esta semana em comemoração aos 70 anos do Bond literário.

www.youtube.com/watch?v=669FHHS3YSk

Fica aqui minha homenagem e  o desejo de um sucesso ainda maior nos próximos 70 anos. 

Na dúvida, volte aos livros pois o verdadeiro James Bond está nos livros. Bond Forever. 


Eu retornarei. Um dia...








PS: Suplemento Especial dedicado à memória de Ian Fleming

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